Correio Central
Voltar Notícia publicada em 16/08/2018

Teia criminosa está por trás do sumiço de brasileiros nas Bahamas; rondonienses são vítimas

Morador de Jaru, já morreu tentando a travessia, ouro-pretense ficou preso em Nassau e há desaparecidos até hoje

Uma verdadeira teia criminosa, com organização dinâmica, está por trás do sumiço de 12 brasileiros no mar das Bahamas. O grupo desapareceu em novembro de 2016 ao tentar a travessia ilegal para os Estados Unidos com a ajuda de coiotes brasileiros. 

O caso ainda está em fase de investigação, mas se aproxima de um desfecho. Há quase dois anos a Polícia Federal colhe provas, ouve testemunhas, confirma e descarta explicações para o sumiço e monitora a atividades de cinco suspeitos.

Dois deles estão presos preventivamente, um foi capturado com a ajuda da Interpol no Panamá e trazido para Brasília, um segundo está preso em Rondônia e os outros cumprem outras medidas cautelares. O avanço foi resultado de acordos de cooperação investigativa e jurídica do Brasil com quatro países: Bahamas, República Dominicana, Panamá e Estados Unidos.

No Brasil, a investigação, batizada de 'Operação Piratas do Caribe' é coordenada pelo delegado Raphael Baggio de Luca.

— Identificamos que existem vários grupos que se unem para determinadas práticas. Há grupos no Norte do País, Sudeste, Nordeste e Sul com vários responsáveis em cada uma das etapas. E há núcleos no exterior, na área de intermediação, seja México, seja Bahamas. Em cada uma das etapas nós verificamos que há associações de forma diferente. É uma grande organização criminosa com atuação dinâmica, uma teia, pela mudança de papeis e hierarquia que se monta em cada etapa.

Com as prisões cautelares, a PF tenta cortar a atuação por núcleos, como o das Bahamas, o de Rondônia, o de Santa Catarina e o de Minas. Eram nesses locais do Brasil que funcionavam ‘agências de turismo’, que na verdade, vendiam pacotes de travessia para os Estados Unidos. Os brasileiros pagavam entre 15 e 20 mil dólares por travessia (hoje equivalentes a R$  58 mil a 78 mil reais), além de outras despesas como diárias na casa nas Bahamas (122 dólares a diária). 

Baggio de Luca começou a investigação porque estava de plantão em Ji-Paraná, Rondônia, quando a família de um dos desaparecidos procurou a PF para reportar o sumiço. Inicialmente a polícia federal conseguiu a emissão de uma difusão amarela [alerta internacional de busca], e buscas foram realizadas no local do naufrágio para tentar encontrar sobreviventes. Paralelas às buscas, começaram as investigações da ação da organização criminosa.

Casa em Nassau onde brasileiros ficaram hospedados - foto Coluna do Fraga



Os brasileiros que desapareceram no mar das Bahamas vinham de várias partes do País. No grupo havia dois casais e dois amigos. Os outros não se conheciam. Eles compraram seus pacotes para a travessia em diferentes agências pelo Brasil. Chegaram em Nassau no início de novembro em pequenos grupos, em datas diferentes mas próximas. Alguns ficaram cerca de uma semana em uma casa alugada pelos coiotes Ernane e Laerte esperando pelo embarque em um pequeno barco de pesca, conduzido por dois cubanos. Além deles, cinco dominicanos também estão desaparecidos.

De acordo com a apuração da PF, a teia criminosa movimentou pelo menos R$ 25 milhões de reais e enviava uma média de 150 adultos e 30 menores por ano para tentar o ingresso ilegal nos EUA. Outros brasileiros, além dos 12, desapareceram ou morreram tentando a travessia auxiliados pelos mesmos coiotes. 

Além da promoção da imigração ilegal, a quadrilha cometia crimes paralelos, como falsificação de documentos, corrupção de agentes de imigração, ou contrabando de cigarro para levantar recursos.

Presos que não têm dinheiro para pagar advogado sofrem humilhação e todo tipo de violência na cadeia - Imagem: arquivo Correio Central

Fonte: R7.com Coluna do Fraga

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