Correio Central
Voltar Notícia publicada em 06/08/2013

'Fator surpresa' pode baixar notas da redação no Enem

Especialistas consideram o tema "Movimento imigratórios para o Brasil no século XXI" distante da realidade da maior parte dos estudantes

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)  de 2012 terminou com uma surpresa: no último dia, os candidatos tiveram de escrever uma redação sobre movimentos imigratórios no Brasil do século XXI. O tema, considerado inesperado e complexo, foi o principal assunto entre os estudantes nas saídas dos locais de prova. Os participantes criticaram a proposta, dizendo que não estavam preparados, e esperavam temas ligados à violência, meio ambiente e política. Para professores, é provável que a média dos alunos na dissertação sofra uma queda neste ano em comparação com 2011 - que teve como tema "Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado".  Rogério Chociay, especialista em redação de vestibular, afirma que houve uma "quebra de expectativa em relação ao ano passado". "O tema está um tanto fora do eixo da maioria dos estudantes. Além disso, não há informações precisas se há de fato um movimento migratório", diz ele. "A proposta é perigosa pelo número de dúvidas que causa. Os estudantes ficaram dependentes dos textos de apoio", considera. 


Os textos de apoio, por sua vez, continham informações sobre imigrantes do Haiti, que chegam ao país pelo Acre, sobre a questão dos bolivianos no Brasil, e o movimento de migração dos séculos 19 e 20. Na visão de Nilson José Machado, professor da faculdade de Educação da USP, os textos pouco auxiliaram os estudantes. "Talvez fosse mais razoável se fossem colocados textos com claras referências teóricas à tolerância, por exemplo, que textos que reiteram casos particulares". afirma.

Discordando dos colegas de profissão, o diretor pedagógico da Oficina do Estudante, Célio Tasinafo, elogiou a escolha do tema: "É um assunto atual e relevante, que obriga o aluno a refletir sobre questões sociais e políticas". No entanto, ele reconheceu que a proposta ficou distante da realidade da maioria dos vestibulandos. "Pela lógica, a nota média da redação tende a ser um pouco menor do que a do ano passado. Outro fator que pode alterar esse quadro é que, a princípio, a correção neste ano será mais criteriosa", diz.

 

Caroline Andrade, coordenadora de língua portuguesa do Cursinho da Poli, reforça o argumento de que a proposta foi surpreendente, o que pode comprometer a nota de alguns alunos. "O inesperado pode causar insegurança e fazer com que a pessoa não consiga construir uma argumentação consistente", diz.


Especialistas afirmam que a prova de linguagens, aplicada no domingo, também precisa passar por aprimoramentos. "Os textos continuam muito longos, fazendo com que o candidato chegue à metade da prova cansado", considera Célio Tasinafo. A queixa sobre a extensão do exame foi consenso entre os estudantes. "Os textos eram enormes e a cabeça ficava até meio embaralhada. Às vezes, tinha que ler duas ou três vezes para entender o que era pedido", afirma a estudante Amanda do Nascimento, de 17 anos. 


Já a prova de matemática recebeu elogios. "Os enunciados eram curtos e muito bem elaborados", disse Marcelo Dias Carvalho, do Etapa. 

 

Fonte: veja.abril.com.br

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