Correio Central
Voltar Notícia publicada em 17/04/2017

Piscicultura de Rondônia está afetada por endo e ectoparasitas, e pesquisa da UNIR poderá ajudar amenizar prejuízos aos criadores

Problema não causa mal para o consumidor, mas caus prejuízos para quem investe na piscicultura e não tem orientação

EDMILSON RODRIGUES - Produtores de peixe tambaqui em cativeiro que investem na atividade em Rondônia têm tomado medidas desesperadas na tentativa de atingir o índice mínimo de engorda no tanque, que equipare ao investimento feito, e pesquisa concluída recentemente mostra que quase a metade dos criatórios sofre baixa de produção pela falta de conhecimento de técnicas de manejo, controle sanitário e uma medicação eficiente que elimine os parasitas que impedem o desenvolvimento do peixe na represa. 

Em três Seminários realizados em Ariquemes, Ouro Preto e Pimenta Bueno no mês passado foi apresentado um levantamento da fauna de endoparasitos, da diversidade de ectoparasitos e o grau de infestação dessas enfermidades nos criatórios de tambaqui em diferentes modelos de cultivo na região Central do estado em peixes coletados em propriedades nas regiões polarizadas pelos municípios de Ji-Paraná, Presidente Médici, Mirante da Serra e de Rolim de Moura.

O trabalho de campo é resultado do longo experimento realizado nos Departamentos de Engenharia de Pesca e de Zootecnia da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), do campus de Presidente Médici, num trabalho conduzido pela professora e Doutora Bruna Rafaela Caetano Nunes Pazdiora e o professor Mestre Yuri Andrade Lopes, com participação dos docentes (professores) e discentes (universitários) da instituição federal de ensino superior no estado.

DOUTOR YURI ANDRADE E DOUTORA BRUNA RAFAELA CONDUZIRAM A IMPORTANTE PESQUISA

Desde 2014, os pesquisadores da UNIR vêm conduzindo pesquisas sobre o grau de infestação parasitológica em tambaquis (Colossoma Macropomum), sendo causados por ectoparasitos, endoparasitos ou por ambos. Foi feito uma análise parasitológica em peixes da espécie Tambaqui com diferentes tamanhos - tanto internos (endoparasitas) quanto externos (ectoparasitas) -, e conseguiu-se identificar que eles possuíam variado grau de parasitismo.

A Indústria Nutrizon Alimentos LTDA, com sede em Rolim de Moura desde 2015, que foi adquirida em 2016 pela subsidiaria brasileira da Neovia - ramificação no país da multinacional francesa InVivo, foi fundamental para a pesquisa ao construir um laboratório dentro do campus da UNIR, e faz estudo paralelo em sua sede para produzir nutrição eficiente para sanar o problema parasitário e dotar os criadores de condições de eliminar os endo e ectoparasitas.

A pesquisa mostra que, no caso do ectoparasita Perulernaeae gamitanae, o local de inserção dela é do lado de fora na região de boca, palato e língua.  Os animais colocados no tanque para crescimento e engorda em número menor, parasitas até não causa problema com relação à mortalidade, mas se é um número grande que é o que normalmente acontece em criatórios, os peixes param de se alimentar. O tambaqui fica bicudo, evolui só a cabeça e o rabo, não tem musculatura. O acantocéfalo compete o alimento junto com o tambaqui.

Os peixes param de se alimentar e onde o parasito se fixa tem um sistema de âncora que vai causar um processo inflamatório e dermatoso, e o animal vai ficar suscetível a qualquer outro tipo de variação. Normalmente só as fêmeas é que fixam no hospedeiro; ela se fixa justamente para se alimentar de sangue e outros matérias do hospedeiro, e esses ovos eles caem dentro do tanque. “Pode ser que o criador retire aquele lote de peixes, e quando coloca outro lote novo todo o criatório fica infestado”, observa a pesquisadora.

A questão preocupante é que o grau de infestação desses parasitas atinge toda a cadeia da piscicultura, para impedir essa infestação é necessário fazer um manejo sanitário bem elaborado antes de esses animais serem postos na represa, prática que ainda não é feita na cadeia da piscicultura em Rondônia. Do modo que está o grau de infestação hoje, produtores ficam realizando experiências sem conhecimento na tentativa de sanar o problema, o que pode ocasionar em mais perdas.

A avaliação do experimento da UNIR mostra a susceptibilidade do sistema de cultivo piscícola frente aos desafios enfrentados pelos produtores de peixe em cativeiro na adoção de um manejo sanitário e o controle sanitário em suas propriedades, o que vem causando sérios danos ao setor produtivo na piscicultura em todo o estado de Rondônia.

A conclusão da pesquisa até agora determina que, os resultados indicam que o manejo inadequado dos tanques das pisciculturas seja um dos fatores que colaboram para proliferação dos parasitos, assim sendo as infestações ocasionadas geralmente são indicadores de condições sanitárias precárias, transporte indiscriminado de peixes sem inspeção e deterioração da qualidade da água.

O levantamento das espécies de ectoparasitas é uma importante ferramenta para a piscicultura, pois identificando quais as espécies de parasitas mais comuns pode-se, por meio de adoção de técnicas de manejo, evitar proliferação de doenças, visto que ectoparasitas são comensais, ou seja, são normalmente encontrados nos peixes, e se desencadeiam doença quando há um desequilíbrio na relação parasita x hospedeiro x doença.

INFESTAÇÃO OCORRE NOS TRÊS CICLOS

Foram avaliados os três ciclos de produção de tambaquis, mas o sistema de cultivo intensivo é mais propício à infestação de ectoparasitos, sendo que em nenhum sistema emprega-se um manejo sanitário adequado, conforme avaliação do estudo conduzido pela equipe coordenada peça doutora da UNIR que atua nas áreas de sanidade, manejo e conservação de recursos pesqueiros, Biologia Molecular, Genética de Populações, sistema de informação geográfica, nutrição e produção animal. “Nós avaliamos o grau de parasitismo nos três diferentes sistemas. Com análise parasitológica tanto por fora do peixe, e igual no caso da perularneae gamitanae ela é só por fora, na boca, nas narinas”, explica.

 

ESPÉCIES ENCONTRADAS

Foram avaliados 10 indivíduos por propriedade, num total de sete propriedades com diferentes sistemas de cultivo – extensivo, semi-intensivo e intensivo -, entre os meses de agosto de 2015 a julho de 2016. Para a avaliação parasitológica, cada espécime pesando a partir de 150 gramas foi examinado através da observação a olho nu, raspados da superfície corporal e brânquias, anestesiados e necropsiados para analise dos parasitos nos órgãos internos.

Em todas as pisciculturas visitadas pelos pesquisadores foi encontrado algum grau de infestação em tambaquis, sendo causados por ectoparasitos, endoparasitos ou por ambos. As espécies parasitas encontradas em ordem decrescente de prevalência foram:

Helmintos da classe Monogenea (61,42%) - hospedeiro na fase de Larvicultura e Alevinagem com capacidade de proliferação no corpo e brânquias dos peixes, e encontrados na forma adulta ou larvas encistadas no intestino ou cavidade visceral, interior de órgão como a vesícula biliar e gônadas, no sistema circulatório e tecido subcutâneo do peixe;

Crustáceo da espécie Perulernaea gamitanae (12,81%) – ectoparasitos de alevinos do tambaqui, as fêmeas penetram na escama, na base das nadadeiras ou na cavidade bucal, aderindo à língua, fossa nasal causando inflamação no local afetado. Este ectoparasita é um crustáceo, prima da perulernaeae que veio para o Brasil introduzida com Carpa que é muito característica do tambaqui, e tem um fator espécie especifico que só acomete o tambaqui e os híbridos dela. A primeira vez que foi encontrada foi no rio Amazonas, no Peru, e depois disso chegou no Brasil.

Neoechinorhynchus buttnerae (45%) - verme acantocéfalo encontrado no sistema intensivo que não causa a morte do peixe, mas provoca infecção na parede intestinal severa, causa queda expressiva no desempenho reprodutivo, provoca a perda de apetite e o peixe não engorda.

MÉDOTO DE PESQUISA DA AVALIAÇÃO NO PÓLO DA UNIR DE MÉDICI

MEDIDAS PROFILÁTICAS

O foco de uma enfermidade começa em determinada piscicultura que comercializa os alevinos para outros criadores e uma das questões é que não existe um certificado ictiosanitario que atesta que aquele alevino não tem enfermidade.

Doutor Yuri Andrade é Engenheiro de Pesca com Graduação de Mestrado em Carcinicultura e Doutorando em Ciências Animal, e membro da Câmara Setorial de Piscicultura e do Grupo de Trabalho Aquícola de Rondônia. Ele orienta que se o criador tem medidas profiláticas preventivas, ele corrige todo o resto mais à frente, e a adoção de repasse dessas técnicas é necessária que seja feita o mais rápido possível, pois os produtores não tem muito conhecimento.

Quando os alevinos chegam à propriedade se o produtor mantê-los separados num sistema de quarentena, ele consegue observar esses animais, e se já apresentar algum tipo de enfermidade deve ser feita a correção ali e não passar pra frente. “Só vai passar os animais saudáveis. Normalmente a enfermidade passa de um produtor para outro e o parasita segue a sequência”, faz o alerta o pesquisador.

O problema é que a infestação vai crescendo dentro do tanque, o problema vai se arrastando desde o inicio do produtor de alevinos até o final da cadeia, e as perdas econômicas são muito grandes. Em cada fase de criação tem animais que fica mais suscetível e a mortalidade é muito mais alta e o rendimento desses animais cai muito, o rendimento de carcaça pode cair para mais da metade. Não tem uma simbiose, o interno está associado à questão de manejo.

Muitos criadores no estado estão recorrendo a métodos desconhecidos, fazendo experiências porque ouviram o vizinho dizer que dá certo, e há ainda a ação de oportunistas que oferecem produtos sem origem e não apropriados para conter o avanço de parasitas. A pesquisa que a UNIR concluiu corrige os erros ora verificados e será útil para o equilíbrio e a manutenção da atividade que gera renda, emprego e divisas para o Estado. 

A piscicultura no estado cresceu muito rápido nos últimos 10 anos, quase 1.500%, e combater agora a ocorrência de infestações parasitárias são determinantes para o sucesso da atividade de qualquer espécie de peixe, principalmente em sistemas reprodutivos que utilizam elevadas densidade de estocagem, visando maior produtividade e rentabilidade.

CORREIO CENTRAL LOCALIZOU TAMBAQUI DA REGIÃO DE OURO PRETO 

AVALIAÇÃO DA ÁGUA É FUNDAMENTAL PARA ELIMINAR O PROBLEMA VERIFICADO NA PESQUISA

MESTRES, DOCENTES E DISCENTES DA UNIR DE PRESIDENTE MÉDICI

COLETA DA PESQUISA DA UNIR, CAMPUS PRESIDENTE MÉDICI

 

 

  

 

Fonte: www.correiocentral.com.br - fotos Edmilson Rodrigues - UNIR - LABORATÓRIO NUTRIZON

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