Correio Central
Voltar Notícia publicada em 24/04/2020

Em Rondônia, laticínios recuam no preço combinado e produtores pedem socorro

Para piorar, os laticínios mudaram a data do pagamento para o fim do mês, e há uma cooperativa que quer parcelar em 3 meses.

No ambiente atual em que os supermercados estão subindo o preço por litro de leite nas prateleiras, o produtor rural rondoniense, que lida com gado de leite, recebeu a notícia que vai receber bem menos do laticínio por cada litro entregue - numa quebra de contratos firmados antes de surgir a pandemia do novo coronavírus – e muitos não sabem o que vão fazer para fechar a conta no final do mês.

Para piorar a situação, os laticínios associados ao Sindileite/RO lançaram nota conjunta no dia 7 de abril informando que “os pagamentos que eram efetuados no dia vinte de cada mês, passarão a serem efetuados no dia trinta”. Significa que o produtor vai receber pelo leite entregue durante o mês de março no dia 30 de abril.

“A nossa associação entrega pra Italac, eles não pagaram e mandaram uma “cartinha” do Sindileite. Eu liguei no laticínio e falei: eu não entrego leite pra o Pedro Bertelli nem pra Sindileite nem pra ninguém. Eu entrego pra italac!”, protestou o presidente de uma das maiores associações rurais do município de Ouro Preto do Oeste, referindo-se a nota recebida e assinada pelo presidente do Sindileite.

Outro produtor da região do distrito de Rondominas afirmou que o único laticínio que efetuou o pagamento no dia 20 de abril foi a indústria laticinista Três Maria, de Ouro Preto do Oeste, mas pagou apenas R$ 0,80 (oitenta centavos) pelo litro de leite recebido no laticínio em março, mais R$ 0,10 retroativo ao mês anterior.  

No final de 2019 e começo do ano de 2020 as grandes empresas laticinistas do estado de Rondônia adotaram uma política agressiva e ofertaram preços entre R$ 1,30 a R$ 1,50 por litro de leite, situação que fez com que produtores rompessem contratos e que pequenas empresas fechassem as portas, como ocorreu em Machadinho do Oeste, Mirante da Serra e no distrito de Rondominas, na região de Ouro Preto do Oeste.     

Agora, o Sindileite em nome dos laticínios se manifesta justificando que a pandemia do coronavírus causou um revés no mercado de queijo, de manteiga e que as medidas se tornam necessárias “para conciliar seu fluxo de caixa, em razão da queda brusca das vendas”.   

Um produtor da região da linha 200, que pediu sigilo do seu nome, também enviou mensagem a reportagem manifestando sua revolta com a entidade representante das empresas e a falta de compromisso dos laticínios em cumprir com o compromisso firmado. “Esse tal desse Sindileite é um inimigo dos produtores de leite de Rondônia. As autoridades e os políticos não fazem nada, não tem ninguém por nós. O produtor fica desmotivado porque você vende leite e eles tiram imposto pra poder manter esses sindicatos só pra ferrar com o produtor, o governo não faz nada e não temos incentivo de nada”, manifestou-se.

"É UMA QUEBRADEIRA TOTAL", DIZ REPRESENTANTE DOS PEQUENOS PRODUTORES

O produtor rural Vandeir Pereira Leite, um dos coordenadores do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que reside na região de Nova União e Mirante da Serra, questionou o fato de que, as compras efetuadas pelos produtores nas lojas agropecuárias e nos mercados estão vencidas e vai ser cobrado juros, enquanto o litro de leite que o pequeno produtor estava recebendo entre R$ 1,30 a R$ 1,35 vai ser pago apenas R$ 0,80, além do atraso nos pagamentos.

“Cadê o programa de recuperação das empresas que o governo federal tanto falou? Se está chegando nós continuamos pagando a conta aqui em baixo”, reclamou.

O representante dos pequenos produtores também alertou para o fato de que uma associação/cooperativa formada após a falência do Laticínio Tradição, que agrega muitos produtores estaria propondo pagar em três meses o leite de um mês fornecido pelos criadores. Ou seja: o pagamento de março seria pago em abril, maio e junho.

“É uma quebradeira total. Nós estávamos vendendo leite a mais de R$ 1,30 pra vender de oitenta centavos e o pagamento de um mês sair em três meses. Muito complicada a situação porque os produtores devem nas lojas, nos mercados e muita gente só tem o leite pra vender”, concluiu Vandeir Pereira.   

Fonte: www.correiocentral.com.br

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