Correio Central
Voltar Notícia publicada em 13/07/2018

Dupla enterra idoso sem família saber e faz testamento adquirindo bens dele

Dois dias antes da morte, o enfermeiro dele e uma jornalista se tornaram os herdeiros do patrimônio do idoso.

O susto de uma sobrinha que foi visitar o tio e descobriu que o idoso, além de estar morto, já tinha sido enterrado sem conhecimento da família, fez com que a Polícia Civil começasse a investigar uma história macabra em Juiz de Fora, na Zona da Mata de Minas Gerais.

Dois dias antes da morte de Simeão Cruz, de 80 anos, o enfermeiro dele e uma jornalista se tornaram os herdeiros do patrimônio do idoso por meio de um testamento que a polícia suspeita ter sido manipulado.

De acordo com o delegado Eurico da Cunha Neto, a dupla passou a ser investigada por estelionato e homicídio. “Eu fui informado da morte pela família e achei tudo muito estranho. Quando chamei os suspeitos para prestar depoimento, eles apresentaram versões contraditórias sobre o fato. O cuidador do idoso disse que a jornalista fez o testamento, já a mulher relata que o homem a induziu ao erro no documento. O fato é que tem algo errado nesta história.”, afirmou o delegado. O idoso tem um patrimônio de cerca de R$ 12 milhões.

Cruz morreu no dia 13 de maio deste ano e o testamento foi autenticado em cartório no dia 11 de maio. Segundo o delegado, o documento teria sido feito em casa e, debilitado, o idoso pode ter assinado sem saber do que se tratava.

Cruz era advogado aposentado e morava sozinho na cidade. Há oito anos ele contava com a ajuda do cuidador porque  tinha pressão alta. Ele não tinha filhos nem mulher. A família morava em outros Estados como Rio de Janeiro e Brasília e a sobrinha só soube da morte em junho, ao ir visitar o tio.

“A família descobriu que esses dois suspeitos enterraram ele sem  fazer velório. Um absurdo. A primeira coisa que a família quer é que seja investigada a causa da morte, já que eles não tiveram o direito de despedir de seu ente querido”, contou Ricardo Fortuna que é advogado da família.

O delegado abriu o inquérito no último dia 8 de junho. Ele pediu a exumação do corpo para que seja realizada a necrópsia e seja descoberta a verdadeira causa da morte.

“No atestado de óbito consta que ele teve insuficiência cardíaca, mas temos que averiguar o que aconteceu de fato. O médico que deu o atestado não era o que tinha o hábito de tratar a vítima. A princípio, o profissional não será investigado, mas se for constatada alguma irregularidade ele pode ser investigado”, explicou o delegado.

Um mandado de busca e apreensão também foi expedido e na casa dos dois suspeitos foram apreendidos computadores, documentos e celulares que vão ajudar nas investigações. Já foi pedido também, para a Justiça, a quebra do sigilo das ligações dos suspeitos e da conta bancária.

O testamento foi interditado pela Justiça até que as investigações sejam concluídas e a jornalista e o cuidador ainda não tiveram acesso aos bens do idoso.

A reportagem de O TEMPO tentou contato com os advogados de defesa dos suspeitos, mas não conseguiu encontrá-los. Os dois são investigados em liberdade. 

Suspeitos já tinham adquirido outros bens do idoso

O delegado Eurico da Cunha Neto contou que a dupla tinha vendido um carro  do idoso dias antes da morte dele. “Pelo que consta ele assinou o contrato de compra e venda de dentro do carro, de tão debilitado. Além disso, a jornalista diz que recebeu R$ 40 mil de presente do idoso, o que estamos considerando suspeito por ser muito dinheiro para se presentear alguém”, analisa o delegado.

Segundo Neto, o cuidador de Simeão Cruz tinha tentado,  recentemente, uma união estável com o idoso alegando que ele era homossexual. No entanto, segundo o delegado, não se sabia a orientação sexual de Cruz. “A família diz que ele era só o enfermeiro e que não sabia de relacionamento entre os dois”, contou.

Cruz era dono de um grande patrimônio em imóveis e carros que ele adquiriu ao longo da vida e também de bens herdados de um irmão dele que tinha morrido há pouco tempo, sem deixar herdeiros.

Apesar de caso obscuro delegado diz que tem facilidade nas investigações

O delegado, que trabalha na Polícia Civil há 20 anos, relatou que nunca tinha visto um caso desse tipo. “É uma coisa muito inusitada, mas ao mesmo tempo temos facilidade nas investigações, porque os suspeitos se contradizem muito nas versões dadas, parece que cometeram o crime de forma inocente”, avalia o delegado.

Ainda de acordo com Neto, a dupla já estava certa que iria adquirir os bens do idoso. “Eles fizeram tudo de forma muito amadora e estavam só esperando para ter acesso a todo patrimônio da vítima. Agora estamos apurando tudo direitinho para descobrir o que aconteceu e encontrar respostas para isso tudo”, concluiu o delegado.

Reportagem: NATÁLIA OLIVEIRA

Fonte: www.otempo.com.br

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