Correio Central
Voltar Notícia publicada em 20/04/2019

CHACINA DE COLNIZA: MPE aponta assassinato de testemunha e advogado distribuindo dinheiro

O empresário Alex Gimenez Garcia, de Ariquemes, foi morto com 11 tiros e teve o carro incendiado depois de prestar depoimentos.

Exatos dois anos após a série de assassinatos conhecida como Chacina de Colniza, no município distante 1.065 km a noroeste de Cuiabá, local próximo a Rondônia, o Ministério Público de Mato Grosso (MPE) contabiliza uma testemunha assassinada e outra que fugiu por ter sido vítima de atentado.

O órgão de acusação revelou ainda que a defesa do suposto mandante dos crimes distribuiu R$ 3 milhões para comprar álibis. Mesmo com tantos fatos novos durante a instrução, ainda não existe condenado pelas mortes. Todos os 5 envolvidos aguardam julgamento.      

Conforme alegações finais propostas pelo Ministério Público em um dos 4 processos desmembrados da denúncia, houve retaliação contra testemunha ocular identificada como Osmar Antunes, então morador da região.   

Segundo descrito, no dia 19 de abril de 2017 (data da chacina) ele se escondeu atrás de uma árvore após ouvir tiros. Em seguida, visualizou alguns dos sujeitos denunciados. Os suspeitos, armados com espingardas calibre 12, não perceberam a presença e concluíram as execuções. O trabalhador escapou por pouco.  

Após prestar o importante depoimento para reconhecer os envolvidos, Osmar Antunes sofreu tentativa de homicídio. Segundo relatado no processo, a testemunha foi alvo de tiros de pistola. Amedrontado, Osmas fugiu de Colniza e não foi mais localizado para prestar novas declarações em juízo.     

Além de Osmar, outro fato violento chama atenção. O empresário Alex Gimenez Garcia prestou depoimento afirmando ter sido comunicado, dias antes dos crimes em sequência, sobre a possiblidade de um “limpa” na área. O relato de Alex traz exatamente os nomes dos acusados pelo MPE como autores.  

  

Após depoimento, Alex foi assassinado com 11 tiros no dia 28 de julho de 2018 em Ariquemes, Rondônia.  Conforme informações da mídia local, o crime ocorreu em um bar. O site de notícias Diário da Amazônia relatou que “a vítima encontrava-se sentada ingerindo bebida alcoólica no referido estabelecimento quando em dado momento um indivíduo surgiu efetuando disparos de arma de fogo na direção da vítima”.     

Enquanto perícia técnica examinava o local em que Alex foi morto, policiais militares encontraram o carro usado no crime totalmente incendiado. Veículo acabou queimado para esconder vestígios que pudessem apontar autores. O assassinato ganhou conotação de queima de arquivo.   

Ainda conforme depoimento prestado por Alex, o suposto mandante do crime distribuiu cerca de R$ 3 milhões para que seu advogado, defensor identificado como Leo Fachin, pudesse “comprar” testemunhas. Assim uma versão capaz de inocentar os acusados seria fabricada.   

Mesmo não trabalhando mais no caso, Fachin enviou resposta ao GD, rebatendo as acusações de Alex. “Esse cara era um louco, reconhecidamente marginal e possivelmente envolvido diretamente com a chacina ou com seus reais executores. Literalmente não tem fundamento essa afirmação dele (que infelizmente morreu e já não pode ser confrontado). Fez isso como defesa no desespero porque achou que uma testemunha que sabia muito do caso o havia denunciado (e isso sequer ocorreu)”, afirmou por meio de aplicativo de mensagens.   

Fachin foi substituído no processo pelo advogado Ulisses Rabaneda, conhecido em Cuiabá por trabalhar em importantes casos na esfera criminal.     

A chacina     

Valdelir João de Souza, suposto mandante, Pedro Ramos Nogueira, Ronaldo Dalmoneck, Paulo Neves Nogueira e Moisés Ferreira de Souza foram denunciados por homicídio triplamente qualificado (mediante pagamento, tortura e emboscada).    Conforme a denúncia do Ministério Público (MPE), os nomes integram um grupo de extermínio denominado “os encapuzados”, conhecidos na região como “guachebas”, ou matadores de aluguel, contratados com a finalidade de praticar ameaças e homicídios.           

No dia 19 de abril de 2017, segundo o MPE, Pedro, Paulo, Ronaldo e Moisés, a mando de Valdelir, foram até Taquaruçu do Norte, (localidade próxima a Colniza) munidos de armas de fogo e arma branca, onde executaram Francisco Chaves da Silva, Edson Alves Antunes, Izaul Brito dos Santos, Alto Aparecido Carlini, Sebastião Ferreira de Souza, Fábio Rodrigues dos Santos, Samuel Antonio da Cunha, Ezequias Satos de Oliveira e Valmir Rangel do Nascimento.         

O grupo de extermínio percorreu aproximadamente 9 km, matando, com requintes de crueldade, todos que encontraram pelo caminho.  

O objetivo das mortes foi, segundo o MPE, facilitar o comércio ilegal de madeiras nobres praticado por Valdelir João de Souza.  

Entrevista

 O GD publicará ainda nesta sexta-feira uma entrevistra com Valdelir João de Souza, suposto mandante. Confira a primeira reportagem sobre o caso clicando aqui

Fonte: Gazeta Digital - Cuiabá

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