Sucumbiu nos dentes afiados de um motor, recentemente, a
histórica castanheira do Parque do Bosque, onde o habitava há
pelo menos 500 anos. Sua idade ao certo jaz no tempo.
Com 5,5 metros de circunferência e aproximadamente 40 de
altura, a bertholletia excelsa, com suas proporções harmônicas.
parecia ser um bonsai gigantesco
Não ocupa mais a bela paisagem do Parque central nem
pode mais ser contemplada de vários pontos da cidade aquela
forte estrutura autotrofa.
A passarela sinuosa construída na revitalização do antigo
Bosque, hoje Parque do Bosque, permitia contemplar de perto seu
robusto, estriado e enegrecido tronco.
Mas olhar para o alto dali se via os braços fortes erguidos
em majestosa copa, os tortuosos e imponentes galhos, adornados
com parasitas esverdeados.
Em seus mais altíssimos lanços também as aves araras,
águias e garças pairavam seguras e felizes a fitar em fresca brisa
o infinito azul.
Viveste para servir e neste teu longo e profundo silêncio
raramente ouvido transmitiu-nos muitas mensagens, falou-nos no
idioma secreto.
Quanto testemunhou desta tua velha existência? Quem a
acompanhou durante a longínqua rotina de flores e frutos que
cedestes à vida?
Quantas outras companheiras vistes crescer ao teu redor?
Quantos outros viventes te frequentaram, beijaram-te as flores,
saborearam teus frutos?
Pergunto-te aqui agora - sob dor e saudades - quem foram
teus pais? Teus filhos e teus irmãos? Que outra dimensão ocupas
hoje?
As castanheiras verdadeiramente param de frutificar quando
outras co-irmãs são abatidas, como já ouvi dos homens desta
terra?
Árvore amiga, se acaso falei por ti do meu coração sem
pedir-te a licença ou, distraído, rompi o teu emudecer, não me
condenes pois ainda sou-te aprendiz.
Dê-se-lhe um respeitoso e nobre fim a teu querido lenho,
empregando-o em obras de amor desta cidade - em nome do
Criador.
Glauco Antônio Alves
9 de maio de 2019.
Fonte: www.correiocentral.com.br