Correio Central
Voltar Notícia publicada em 27/01/2017

Até 2025, um em cada três postos de trabalho serão substituídos por robôs

Nos Estados Unidos, advogados jovens já não conseguem empregos com tanta facilidade. Em muitas funções, não há necessidade de a pessoa passar a vida toda em uma empresa

Máquinas superinteligentes, robôs e softwares que podem desenvolver atividades até agora exercidas por humanos já fazem parte da realidade. Pesquisa da consultoria Ernst & Young aponta que, até 2025, um em cada três postos de trabalho operacionais serão substituídos por tecnologia inteligente. Muitos não acreditam que as máquinas vão roubar todos os empregos, mas é certo que profissões terão de ser aprimoradas ou reinventadas. O humano sobreviverá no mundo do trabalho, mas aliado à tecnologia.

Computadores estão se tornando exponencialmente melhores no entendimento do mundo. No ano passado, um computador se tornou o maior vencedor de um dos jogos de tabuleiro mais antigos, o chinês Go. Nos Estados Unidos, advogados jovens já não conseguem empregos com tanta facilidade. Com o programa Watson, da IBM, as pessoas têm aconselhamento legal em questões básicas dentro de segundos, com 90% de exatidão, em comparação com os 70% conseguidos por humanos. O software também ajuda enfermeiras a diagnosticar câncer de maneira quatro vezes mais acurada.

As transformações no mercado de trabalho sempre acompanharam as ferramentas desenvolvidas pelo homem. Desde a invenção da roda, as inovações aumentam a capacidade humana de produzir. Nesse processo, algumas atividades perdem sua função e outras surgem. “Quem já ouviu falar do entregador de leite, do arrumador de pinos de boliche, do caçador de ratos ou do acendedor de lampiões? Sociedades e governos maduros encaram o mundo digital de frente e usam a tecnologia para aumentar a produtividade e, em consequência, gerar novos e melhores empregos”, aponta Fábio Rua, diretor de Relações Governamentais e Assuntos Regulatórios da IBM América Latina.

Rua acredita que o mundo não será dominado por robôs, mas “por aqueles que souberem explorá-los para transformar suas vidas em algo mais leve, interessante e feliz”. A diretora de Transição de Carreira e Gestão da Mudança da Consultoria LHH, Irene Azevedo, acrescenta que é um caminho sem volta. Para ela, o futuro guarda muito espaço para o uso das tecnologias cognitivas, que já desenvolvem trabalhos até agora restritos ao homem. “Vamos ter uma migração de mão de obra, como tivemos na Revolução Industrial, no século 19. O mercado de trabalho é baseado em readaptação”, argumenta.

Tendências

Em muitas atividades do dia a dia, já há diferença. O check-in de voo é feito por meio de celulares ou por máquinas de autoatendimento e problemas bancários são solucionados  sem nenhuma interferência humana. “Toda mudança vem para avançar. Se o profissional encarar os desafios, se capacitar e perceber rápido do que precisará para se encaixar nas oportunidades, sobreviverá no mercado”, aponta Irene.

Para especialistas, estamos diante de uma quarta revolução industrial — as três primeiras foram caracterizadas, respectivamente, pela invenção da máquina a vapor, pela criação da linha de montagem nas fábricas, e pelo início do uso de computadores na produção. Nos próximos anos, todas as profissões que desempenham uma atividade intermediária entre produto e serviço passarão por mudanças drásticas. Luís Pontes, sócio de Consultoria para Governos da Ernst & Young, observa que, na época da primeira Revolução Industrial, 90% da população mundial trabalhava no campo. Hoje, são apenas 2%. Além disso, o especialista acredita que estamos caminhando para um mercado voltado para profissionais freelancer. “Em muitas funções, não há necessidade de a pessoa passar a vida toda em uma empresa, ela pode oferecer o mesmo trabalho para várias”, afirma.

 

Perfil híbrido

O aumento do uso de robôs também é visto como uma forte tendência para o futuro. “Todos os trabalhos repetitivos serão viabilizados por inteligência artificial. É normal que profissões desapareçam para novas surgirem. É uma transformação baseada em necessidade e demanda”, aponta Antônio Gil Franco, sócio de Consultoria para Gestão de Pessoas da Ernst & Young. Para ele, todas as profissões estão sujeitas a passar por modificações, mas isso não significa, necessariamente, que serão extintas. “Talvez a gente não as reconheça mais ou não as chame pelo mesmo nome, o que mudará será a forma de atuação”, pondera.

Atualmente, menos de 50% das corporações possuem talentos preparados para assumir posições críticas, de acordo com estudo da Ernst & Young. Em países em desenvolvimento, como o Brasil, não há trabalhadores qualificados o suficiente para atender à demanda empresarial. Até 2025, o mercado de trabalho será mais flexível, com cargos sob demanda e escritórios como pontos focais e não o destino diário. A colaboração homem-máquina também ficará mais evidente.

As funções também serão diferentes, com transformações nas atividades operacionais, como as de operador de telemarketing, caixa e árbitros, e haverá maior demanda por carreiras que lidam diretamente com tecnologias de ponta, como designer especializado em impressão 3D e designer de realidade virtual, aponta Felipe Almeida, cofundador da Zup, empresa brasileira que apoia a transformação digital de grandes organizações. “As empresas desejam pessoas com perfil híbrido, que tenham facilidade de migração, conhecimentos razoáveis para trazer soluções e sempre estejam abertas a mudanças”, frisa.

O sócio-diretor da DSG Brasil Consultores, Celso Georgief, afirma que será necessário deixar a zona de conforto para ter uma carreira bem-sucedida. “Os profissionais terão de buscar conhecimento em novas tecnologias, especializações e atualizações”, analisa. O especialista ressalta ainda que profissões ligadas a cuidados humanos estarão em alta, pois as pessoas estão vivendo mais. “Psicólogos, médicos, enfermeiros e cuidadores de idosos estarão em destaque. É uma área difícil de robotizar e terá demanda da população”, explica.

 

Inteligência artificial


O Watson ficou famoso em fevereiro de 2011 depois de vencer um famoso programa de perguntas e respostas, o Jeopardy, na TV americana. Criado pela IBM, o robô funciona com um software de análise de dados com inteligência artificial, e pode-se dizer que ele pensa como um ser humano e consegue interpretar textos, áudios, imagens e vídeos.

Depois de vencer o Jeopardy, o mundo se abriu para o Watson, batizado em homenagem ao fundador da IBM. Ao longo dos últimos seis anos, o robô fez de tudo: foi utilizada em pesquisas médicas, para frear ciberataques, criou uma cerveja com sabor sentimental, analisou os personagens de Game of Thrones.
 

A IBM diz que Watson é capaz de analisar 200 milhões de páginas de dados e responder a qualquer questão com precisão em menos de três segundos. O robô usa um sistema chamado DeepQA para gerenciar as informações e pesquisar entre os bancos de dados de informações. Além disso, é capaz de compreender a linguagem humana para aprimorar a qualidade dos resultados.

Em todo este tempo, o Watson não era mais do que um software. No ano passado, no entanto, ele ganhou um corpo. A inteligência artificial ganhou formas humanas no robô Nao, da empresa francesa Aldebaran Robotics, que mede 58cm e pesa pouco mais de 4kg. A fusão entre Watson e Nao deu lugar a um robô que não só respondia com a fala, mas também gesticulava acompanhando suas próprias palavras.

Fonte: Correio Braziliene - Marlla Sabino

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