Por Ludmila Pizarro - As redes sociais no Brasil foram invadidas, nas últimas duas semanas, pela mais nova febre da internet, o Sarahah – o aplicativo que permite o envio e o recebimento de mensagens anônimas. Na última semana de julho, o Sarahah, que é gratuito, já era o aplicativo mais baixado na Apple Store e contava, na mesma data, com mais de 1 milhão de downloads só na Google Play Store.
O objetivo dos idealizadores do Sarahah, que são da Arábia Saudita, era permitir que as pessoas pudessem dar e receber “críticas construtivas” sem precisar se identificar. O nome significa franqueza em árabe. Além disso, o app não permite que o destinatário responda a mensagem ao remetente. A ideia original era que o feedback ficasse com quem o recebeu e parasse por ali.
No Brasil, porém, a plataforma já tem sido usada de forma mais variada. Muitos usuários usam outras redes sociais – principalmente Facebook, Instagram e Twitter – para responder as mensagens do Sarahah. “Sem permitir resposta, o aplicativo ficou meio incompleto. A forma foi divulgar as mensagens em outras redes e responder”, conta o mestrando em direitos humanos Sérgio Bispo da Silva Filho, 27.
Com isso, o próprio anonimato do serviço está caindo por terra. “Muitas pessoas que enviaram mensagem no Sarahah se identificavam depois, nos comentários do Facebook, quando eu divulgava a resposta, ou no Messenger”, conta a revisora de livros Thaís Mannoni, 28. Thaís compara o aplicativo a outros que permitiam perguntas anônimas, como o Ask.fm.
Entre os brasileiros, a paquera também está presente no aplicativo. “Pelo menos 50% das mensagens que recebi eram de paquera”, admite a cabeleireira e atriz Yasmim Melo, 27, que recebeu 20 mensagens em cerca de uma semana de uso. Thaís também confessa que recebeu cantadas. “Algumas mensagens nem divulguei porque achei o conteúdo muito explícito”, disse.
Sustentabilidade. Resta saber se o Sarahah não passará de uma onda passageira. Para ser sustentável, o aplicativo, gratuito, precisa se viabilizar comercialmente. Para o especialista em publicidade online Alexandre Borges, ainda é muito cedo para determinar se o app terá apelo junto a anunciantes. Para ele, os downloads já feitos no Brasil são significativos “para um app recém-lançado”, mas ainda é cedo “para validar sustentabilidade e pensar em algo comercial como anúncios”, avalia. “O que manda nesse caso são os formatos, tempo de uso, espaço, alcance e número de usuários”, acrescenta.
Borges ainda lembra que, para gerar anúncios, é importante o próprio aplicativo validar o número de usuários, o que pode levar tempo. “O Instagram demorou um tempo para fazer isso, mesmo depois que foi comprado pelo Facebook”, conclui.
O aplicativo Talk About Me, lançado na última segunda-feira, chegou para concorrer com o Sarahah e promete corrigir os problemas que o app estrangeiro apresenta para o público no Brasil.
“Os pontos fracos do Sarahah são idioma somente em inglês, falta da opção de responder aos comentários, e o fato de o app insistentemente deslogar, fazendo o usuário sair. O Talk About Me vem com tudo que o Sarahah tem, mas com essas falhas corrigidas e opções implementadas”, afirma o desenvolvedor Alex Becher. Capixaba, Becher já vislumbrou outras oportunidades anteriormente. Ele foi o responsável pelo lançamento do brasileiro Orkuti, quando a versão oficial do Google foi descontinuada em 2014. Becher criou o Talk About Me depois de o Sarahah chegar ao Brasil “visando justamente suprir as falhas e falta de opções do concorrente”, conta.
“Uma opção com possibilidade de resposta, mesmo mantendo o anonimato, seria interessante. O brasileiro gosta é de conversar”, opina a revisora Thaís Mannoni. Para o mestrando em direitos humanos Sérgio Bispo Filho, outro problema do Sarahah é a dificuldade de se encontrar conhecidos. “Se a pessoa não divulgou em outra rede social, você tem que saber o nome exato com que ela se cadastrou para achá-la”, diz. O Talk About Me está disponível para Android. (LP).
Talk About Me é concorrente do Sarahah, e permite resposta nos bate papos
As informações são do site do jornal o Tempo, de Belo Horizonte
Fonte: www.otempo.com.br